Descrição: Se no século XIX, o interesse pelos povos estranhos aos europeus esteve relacionado às teorias raciais e à classificação hierarquizada da espécie humana, entre civilizados e não civilizados, entre desenvolvidos e primitivos, no começo do século XX, a tese da Decadência Ocidental relativizou a noção de cultura, percebendo outras lógicas de conhecimento e de relação com a existência, fora da lógica racional e utilitarista que provocava a sensação de alienação humana. Uma corrente de pensamento tinha como pressuposto de que nas culturas exógenas poderia estar situada a infância da humanidade, uma linguagem mítica que poderia ajudar aos modernos a se reatarem com suas fontes espirituais. Entre os artistas de vanguarda, as artes da África, da Oceania, da América pré-colombiana foram recebidas com entusiasmo. Nas suas formas, viam-se elementos para a experimentação de novas linguagens estéticas. A esse movimento de interesses pelas culturas não ocidentais, não modernas, designou-se como primitivismo ou arte primitivista. O contato dos brasileiros da primeira fase do modernismo com a arte primitivista praticada na Europa teve consequências. As viagens de ?descoberta? do Brasil arcaico promoveu um impulso para a emancipação de uma série de recalques históricos, sociais e étnicos. Houve uma inversão de valores na história do Brasil. A valorização do negro, elemento que permanecia recalcado em nossa cultura oficial e a recuperação da cultura indígena como oposição e critica a civilização europeia e como reivindicação de independência cultural, passaram a ser tratados de forma renovada nas artes e nas letras. Uma nova visão dos hábitos e tradições populares ultrapassou o mero registro folclórico. Se a denominação de arte primitivista no Brasil, na aproximação com o primitivismo europeu, durou pouco, não indo muito além da ?fase heroica? do modernismo e da defesa da antropofagia, a questão da brasilidade e do nacional carreou significativos desdobramentos: construção de uma iconografia do Brasil antropofágico, miscigenado, barroco, multicolorido, através do movimento de defesa do folclore e da política preservacionista, que desencadeou a pesquisa e o inventário das raízes da nação. Mas, a proposta de projeto que aqui se apresenta não trata tanto de pensar o tema da brasilidade e do ideário nacionalista, questão exaustivamente trabalhada pela literatura. O objetivo é o de pensar sobre as visualidades emergentes, acionadas pelas artes que vão da primeira fase do modernismo ao contexto getulista, que configuram na iconografia dessa brasilidade, os saberes e fazeres africanos e ameríndios, do caboclo, do caipira, do sertanejo, do roceiro, do pescador; os mitos amazônicos; o barroco e a arte sacra, através da literatura, poesia, pintura, escultura, do desenho e da fotografia..
Duração: 2018 – 2022.
Situação: Encerrado.
Natureza: Pesquisa.
Integrantes: Maria Bernardete Ramos Flores – Coordenadora, Sabrina Fernandes Melo – Integrante, Marcos Luã Freitas – Integrante, Michele Bete Petry – Integrante.
Para ter acesso a projetos de pesquisa anteriores, acesse: http://lattes.cnpq.br/5420701895494855.