Descrição: Em finais do século XVIII, a história enquanto um gênero experimentou acentuada popularidade pela sua capacidade de explicar o mundo, que resultou em uma vasta gama de publicações que seguiram não apenas o eixo político tradicional, inovando e alargando o gênero para outros tópicos de interesse variado. Apesar de as mulheres terem sido colocadas muitas vezes pela historiografia contemporânea como excluídas desse processo, pesquisas mais atuais demonstraram sua ampla participação tanto como consumidoras quanto como produtoras de história. Grande parte do material produzido pelas mulheres de letras pode ser pensado, em termos atuais, como história popular ou educacional, ou em gêneros para-historiográficos como a biografia. Uma dessas escritoras desse tipo de história, e que normalmente é lembrada pelos seus livros de viagem, chama-se Maria Graham. Além do seu Diário de uma viagem ao Brasil, mais conhecido entre os estudiosos brasileiros, Graham publicou três histórias de divulgação para o público infanto-juvenil: A Short History of Spain (1828), Little Arthur’s History of England (1835) e Histoire de France du petit Louis (1836). Ao longo do século XVIII, as mulheres foram cada vez mais vistas como as melhores educadoras que as crianças poderiam ter devido à crença cultural de que a maternidade lhes era inata. As escritoras femininas que escreveram obras educacionais eram autorizadas a falar como sujeitos neste discurso porque eram mulheres. A maternidade serviu a essas escritoras como condição para afirmação no cenário literário, pois existia a expectativa que as mães promovessem o crescimento intelectual das crianças. Isso permitiu que muitas mulheres, escrevendo na esfera de atuação da maternidade, se envolvessem ativamente em debates públicos sobre nacionalismo, epistemologia e desenvolvimento cognitivo das crianças. A relativa desatenção, por parte da historiografia, em relação às histórias alternativas produzidas por mulheres, no início do século XIX, é também uma consequência do conflito entre as práticas e métodos históricos masculinos e femininos. Dessa forma, é imprescindível levar em consideração questões de gênero, a história da historiografia e a profissionalização da história como uma disciplina acadêmica para entender melhor as dinâmicas do gênero História, e mesmo a variedade de suas de suas práticas, e como a construção do cânone historiográfico relegou ao segundo plano as historiadoras, mesmo aquelas que aventuraram-se em uma historiografia mais convencional e política, como Catharine Macaulay, seja em uma mais popular, como Maria Graham. Esta pesquisa tem como principal objetivo, portanto, preencher as lacunas investigativas nesse campo e trazer novos dados que possam contribuir para melhor entender as dinâmicas do gênero História na primeira metade do século XIX britânico.
Situação: Em andamento.
Natureza: Pesquisa.
Integrantes: Flávia Florentino Varella – Coordenadora.
Para ter acesso a projetos de pesquisa anteriores, acesse: http://lattes.cnpq.br/0604322217680166.